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Se é verdade que a desordem destrói o arranjo dos elementos, não é menos verdade que lhe fornece os seus materiais. Quem diz ordem diz restrição, selecção dos materiais disponíveis, utilização de um conjunto limitado de todas as relações possíveis. Ao invés, a desordem é, por implicação, ilimitada; não exprime nenhum arranjo, mas é capaz de gerá-lo indefinidamente. É por isso que aspirando à criação de ordem, não condenamos pura e simplesmente a desordem. Admitimos que esta destrói os arranjos existentes; mas também que tem potencialidades. A desordem é pois, ao mesmo tempo, símbolo de perigo e poder.
O rito reconhece estas potencialidades da desordem. Na desordem do espírito, em sonhos, desmaios, no delírio, o oficiante busca as forças, ou verdades, que nunca se poderiam obter por meio de um esforço consciente. Aqueles que por momentos renunciam ao controlo de si, vêem-se de repente dotados duma energia dominadora e de poderes excepcionais de cura.
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...O homem pode pelos seus actos pôr em acção dois tipos de poderes espirituais: os interiores e os exteriores. Os primeiros situam-se no psiquismo do agente: são o mau-olhado, a feitiçaria, o dom da visão e o da profecia. Os segundos são os símbolos exteriores que o indivíduo deve conscientemente pôr em acção: feitiços, bênçãos, maldições, sortilégios, fórmulas mágicas, invocações. Estes poderes espirituais exigem determinados actos para se manifestarem e libertarem.
Esta distinção entre as fontes interiores e exteriores de tais poderes relaciona-se com a distinção entre poder controlado e poder incontrolado. ...Joana d'Arc, por exemplo, não sabia quando é que as suas vozes lhe falavam, não podia convocá-las a seu bel-prazer e ficava espantada com o que diziam e com os acontecimentos que, para lhes obedecer, desencadeava. ...Em contrapartida, um mágico não pode pronunciar uma fórmula mágica por engano. Uma intenção específica é a condição do resultado.
...Tal como a