Passagens da antiguidade ao feudalismo (perry anderson)
“As invasões não foram casuais ou o azar de Roma. Roma provocou as invasões.”
Perry Anderson sugere que o contato com o elemento romano alterou significativamente o cenário germânico, provocando uma desintegração dos modos comunitários, característicos das sociedades primitivas. Antes do contato com os romanos, o mundo germânico era formado por clãs guerreiros que, em época de paz, cultivavam a terra em um modelo de produção comunal, onde porções de terra eram distribuídas aos grupos familiares, mas o produto do trabalho era compartilhado. Assim, entre esses clãs matrilineares, os chefes só eram necessários em tempo de guerra, a estrutura social era bem rudimentar e a terra não era um bem negociável, pois não havia a ideia de posse. Então, no ano de 406, ocorre uma onda de invasões bárbaras que atravessa o Reno. Não era a primeira vez que os romanos e germanos se encontravam, isto já ocorrera no governo de Júlio César e, com mais intensidade, no governo de Marco Aurélio. As pressões nas fronteiras vinham se intensificando; acontece que as tribos acabaram entrando em contato com o comércio e com o luxo de Roma. Formou-se uma estratificação social, uma aristocracia hereditária que contava com cortejos. E, assim, a unidade do parentesco foi rompida, surgiram os núcleos de poder baseados na guerra e na ambição. A terra deixa de ser comunal e passa a ser distribuída aos indivíduos, criando-se uma elite. Tal acontecimento rompe a unidade da produção comunitária dos pastores e agricultores. Podemos resumir as principais alterações sofridas pelos germanos no seguinte tripé: nobreza, surgida da posse individual da terra; cortejo, surgido do poder gerado pela guerra; escravos, fruto do comércio com Roma. Mas, é preciso notar que Roma alimentou essas transformações ao “criar” uma elite bárbara, visando o enfraquecimento dos laços comunitários. Era preciso neutralizar a comunidade. Era preciso