Parodia
Em definição simples, a paródia, enquanto termo literário, refere-se ao processo de imitação textual com intenção de produzir um efeito de cómico. A forma como se processa essa imitação, a motivação para o acto imitativo e as consequências esperadas para esse acto determinam a natureza literária da paródia. Por exemplo, a paródia é a forma privilegiada do exercício poético-ficcional da auto-reflexividade. Os romances de Italo Calvino, John Fowles, David Lodge, José Saramago, Mário de Carvalho ou Alexandre Pinheiro Torres podem tanto servir de exemplo como as Rãs de Aristófanes, a “Gesta de Mal-Dizer”, do trovador Afonso Lopes Baião, o Gargantua et Pantagruel (1532-64) de Rabelais, as Condensed Novels (1867), de Bret Harte, A Velhice da Madre Eterna (1885) de Xavier de Carvalho, o Eusébio Macário (1879) de Camilo Castelo Branco e ainda nos periódicos Punch, The New Yorker, etc., etc. Não sendo um recurso exclusivo de uma época, está suficientemente documentada no espaço que se convencionou chamar literatura pós-moderna para nos permitir distinguir a paródia também como paradigma desta época. A condição de auto-reflexividade é apenas uma forma de realização da paródia e não a sua definição final, como propõe, por exemplo, Margaret Rose em Parody//Metafiction (Croom, Helm., Londres, 1979).
É frequente a confusão, quase natural, entre o conceito de paródia e outros que vivem nas suas proximidades, sobretudo: a sátira, o pastiche, a paráfrase, a alusão, a citação e o plágio. Se conseguirmos estabelecer uma diferenciação lógica entre estes conceitos, já teremos dado um passo importante para a definição da paródia como paradigma de uma certa forma de fazer arte, que a seu tempo circunscreveremos à arte pós-moderna. Arrisquemos as seguintes proposições iniciais, sem a pretensão de as transformarmos em fórmulas científicas:
1. A paródia é a deformação de um texto preexistente.
2. A sátira é a censura de um texto preexistente.
3. O pastiche é a imitação criativa