Para Uma Epistemologia Da Motricidade Humana
(prolegómenos a uma nova ciência do homem)
O Homem como Projecto
O Homem é um ser que ruma em direcção à transcendência, que procura tornar-se sujeito e não objecto da sua própria História e que tenta superar-se a si próprio na construção da sua identidade. O Homem é um projecto em constante construção, que não verá o seu término, pois a insatisfação e carência levam a um incessante fazer e fazer-se.
A Motricidade, radicada nas ciências do Homem, parte do estritamente corpóreo para uma consciência articulada na relação corpo-mundo e, naturalmente, confere especial relevo ao projecto, à vontade e à necessidade de criar. O Homem, ser intencional e consciente reconhece que é […] desvalido, necessitado e exposto, por isso […] só pode viver, se actua (p. 106) e daí, a razão de ser chamado de práxico.
Para Manuel Sérgio, seguindo a linha de raciocínio de Arnold Gehler, o homem é um ser práxico e ser práxico significa ter capacidade de opinar, escolher, intervir e transformar as coisas em seu redor. Por isso, é um ser que não está terminado, ou seja, é um ser inacabado. Ao contrário dos animais, o homem vive não somente para o aqui e agora mas, fundamentalmente para o futuro, procurando criar condições para viver num espaço onde as suas carências possam ser supridas e compensadas. Em comparação com os animais, o homem é determinado pela sua carência, no que respeita a características originais e primitivas. Morfologicamente, ao ser humano falta-lhe o revestimento de pêlo, que lhe permitiria a protecção contra o frio; os órgãos naturais de ataque e fuga (garras, presas, estrutura muscular e óssea desenvolvida), levando a que necessite, por isso, de protecção mais prolongada após a nascença.
No homem ressoa a insatisfação bem como o desejo de mover-se para fazer e fazer-se, constituir-se num ser intemporal, que, pela Motricidade, consiga revelar o sentido da sua existência e essência, traçando linhas marcantes, construindo a