Sócrates afirmara que o homem é um ser racional e que, graças à razão, pode ser justo e praticar a virtude. A ignorância e a irracionalidade são formas e causas de violência. Em primeiro lugar, violência que alguém comete contra si mesmo, deixando-se levar pela busca irrefletida e imoderada do prazer, pelas paixões, emoções impensadas, irracionais, que nos arrastam em direções contrárias, deixam-nos sem saber o que fazer, crescem por si mesmas e tomam conta de nosso ser. Que violência há no poderio irracional das paixões? A violência que fazemos contra nossa razão, que é nossa melhor parte. Não deixamos falar nem se desenvolver nossa parte superior, a racionalidade, e nos tornamos vítimas de nossa própria ignorância, governados e comandados pelos objetos de nossos apetites e desejos. Mas fazemos também violência nos outros, pois a paixão não só quer possuir sozinha tudo quanto lhe traga prazer e luta contra os demais por essa posse, como ainda nos torna tirânicos, fazendo-nos desejar impor nossa vontade e nossa opinião aos demais, encontrando prazer em dominá-los e submetê-los. Somos injustos com os outros porque nos deixamos levar pela desrazão. As paixões nos tornam heterônomos - somos governados pelas coisas que desejamos - e nos fazem querer que os outros sejam heterônomos - sejam governados pela nossa vontade. As paixões são desmedida, intemperança ou imprudência. O prazer é insaciável, "um tonel furado que nunca pode ser enchido" e o conflito dos prazeres é violência contra si e os outros. Em segundo lugar, violência que os homens praticam entre si, como na guerra e na política - Alcibíades arrastando Atenas á desgraça: Anitos arrastando a Assembléia à vergonha com a condenação de Sócrates -, na religião e na educação - os poetas oferecendo imagens desonrosas dos deuses, despojando a divindade de sua marca essencial, o Bem e a Verdade; os sofistas seduzindo os jovens com a retórica. Em todos estes casos, novamente é a autonomia, a liberdade e sobretudo