Para entender O capital
Meu objetivo é levar você, leitor, a ler um livro de Karl Marx chamado O capital, Livro I[a], e a lê-lo nos próprios termos de Marx. Isso pode parecer um pouco ridículo, já que, se você ainda não leu o livro, não pode saber quais são os termos de Marx; mas um desses termos, eu lhe asseguro, é que o leia – e cuidadosamente. O aprendizado real sempre implica uma luta para compreender o desconhecido. Minhas próprias leituras d’O capital, reunidas no presente volume, serão muito mais esclarecedoras se você tiver lido antes os capítulos em questão. É seu encontro pessoal com o texto de Marx que eu pretendo encorajar, e, na luta direta com ele, você poderá começar a formar uma compreensão própria do pensamento marxiano.
Isso implica, desde já, uma dificuldade. Todo mundo já ouviu falar de Karl Marx, de termos como “marxismo” e “marxista”, e um mundo de conotações acompanha essas palavras, de modo que você está preso desde o início a preconcepções e preconceitos, favoráveis ou não. Mas eu lhe peço que procure deixar de lado, o melhor que puder, tudo aquilo que você acha que sabe sobre Marx, pois só assim poderá captar o que ele realmente tem a dizer.
Há ainda outros obstáculos para chegar a esse tipo de contato direto. Somos levados, por exemplo, a abordar um texto desse tipo a partir de nossas próprias formações intelectuais e experiências. Para muitos estudantes, essas formações intelectuais são afetadas, quando não governadas, por considerações e preocupações acadêmicas; há uma tendência natural a ler Marx do ponto de vista de uma disciplina particular e exclusivista. O próprio Marx jamais ocupou uma cadeira universitária, em nenhuma disciplina, e mesmo hoje a maioria dos aparatos departamentais dificilmente o aceitaria como um dos seus. Portanto, se você é um estudante de graduação e quer lê-lo corretamente, é melhor não pensar no que ganhará com isso em sua área específica – não em longo prazo, é