Para além de uma busca pessoal: a construção da nacionalidade através de Um Passaporte Húngaro
Michel de Paula Soares - n° USP 7617122 michelcantor@gmail.com Disciplina: O cinema documental em questão: a constituição das sociedades enquanto imagem
Responsável: Prof. Paulo Menezes
São Paulo, 11 de dezembro de 2013
O narrador retira da experiência o que ele conta; sua própria experiência ou a relatada pelo outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes (BENJAMIN, 1985, p.197).
Diga-se a modo de prelúdio: alguns dias após assistir ao documentário Um Passaporte Húngaro1, de Sandra Kogut, busquei alguma bibliografia específica sobre o filme e deparei-me com o artigo de Consuelo Lins2, no qual a autora, logo no início, tece o seguinte argumento: “não se trata, como nos documentários mais tradicionais, de uma situação que preexiste ao filme, mas de uma realidade que vai sendo criada no ato de filmar(...)” (LINS, 2004, p.76, grifo meu). Trago este trecho para mostrar como o cinema, e principalmente o cinema documental, mobiliza constantemente a sensação de realidade. Para MERLEAU-PONTY, “concebe-se muitas vezes o filme como sendo a representação visual e sonora, a reprodução mais fiel possível de um drama (...). O equívoco se mantém porque existe, deveras, um realismo fundamental pertinente ao cinema” (1983, p.114). Conforme salientou MENEZES, “para o senso comum, para o público em geral, se a ficção mostra uma construção imaginada do real, o documentário reproduz o real, mostra a verdade sobre um tema ou um fenômeno qualquer” (2004, p.44). Contudo analisarei o filme citado a partir do próprio material fílmico, mais precisamente de como se articulam e relacionam seus diversos elementos (imagem, som, diálogos) para defender o argumento de que o documentário não deve ser confundido com o real, ou com uma representação deste, sendo uma construção realizada pela autora a partir de uma seleção e de uma redistribuição das imagens