Para além de fogueiras: olhares sobre mulheres da Índia do Sul no período medieval
Fogueiras para bruxas, mulheres demonizadas, destinos de esposas e mães selados às filhas de Eva. Tais termos, associados às palavras “Idade Média”, parecem se complementar numa visão comum, e infelizmente, equivocada, de muitos acerca deste período histórico – retratado como um período de miséria, guerras, fanatismo religioso, repressão feminina, “trevas”, portanto, como adjetivado por europeus a posteriori. Diversos historiadores vêm a combater esses estereótipos, como Régine Pernoud, ao questionar a surpresa dos demais num seminário ao falar de mulheres da Idade Média que eram mães, mas não somente, como Leanor da Aquitânia, ou ao mostrar que a “caça às bruxas” se deu em grande parte após o período tradicionalmente tido como medieval.
No entanto, de outra Idade Média este artigo pretende tratar. Outra, quando se tem a Europa Ocidental – com foco nos atuais territórios da França, Inglaterra, Alemanha e Itália - como referência. É preciso pensar que simultaneamente, por exemplo, outras histórias se desenrolavam em outros continentes – diretamente relacionadas às europeias ou não. A Idade Média aqui exposta é a indiana, com duração do século VIII ao século XVIII segundo uma historiografia tradicional2. Também de outras infames fogueiras, de outra mulheres, nem sempre tão lembradas, pretende-se abordar. Afinal, enquanto o Renascimento Carolíngio ou a Guerra dos Cem Anos, por exemplo, conhecidos e comumente abordados em materiais didáticos, ocorriam, em outros lugares de todo o mundo, inúmeros reinados, guerras e vidas aconteciam. Vidas de homens e de mulheres.
Olhos do Ocidente
Em 1271, um veneziano de dezessete anos de idade parte de sua cidade, já conhecida por comerciantes, rumo ao então pouco conhecido Oriente. Mais de 24 anos de viagem e de 24000km percorridos rendem inúmeras descrições dos inúmeros Orientes que conheceu. Algumas delas trazem à