Papa
13 02 28 Vargas Llosa e Bento XVI
(resumo e recortes do artigo de Llosa sobre Bento XVI e sua renúncia; artigo de 24/2/13 no Estadão, em A20, Vida)
Vargas Llosa se diz ateu e declarou-se ‘com profunda perturbação’ depois de ler Bento XVI. A seguir resumo e recortes dos trechos do artigo que mais me tocaram e que se eu por melhor os resumisse toldariam o inspirado valor e sabor descritivo de um escritor prêmio Nobel de literatura de 2010.
... “Bastava vê-lo, fragilizado e como perdido no meio das multidões nas quais sua função obrigava que ele submergisse, fazendo esforços sobre-humanos para parecer protagonista desses espetáculos obviamente estranhos ao seu temperamento e vocação. Diferente de seu antecessor, João Paulo II... Bento XVI parecia totalmente alheio a esses faustos gregários que constituem tarefas imprescindíveis do pontífice na atualidade... Só abandonam o poder absoluto com facilidade com que ele acaba de fazê-lo aqueles raros indivíduos que em vez de cobiçá-los, depreciam-no... Era um homem de biblioteca e de cátedra, de reflexão e de estudo, seguramente um dos pontífices mais inteligentes e cultos que a Igreja Católica teve em toda a sua história. Numa época em que as idéias e as razões importam muito menos que as imagens e os gestos, Joseph Ratzinger já era um anacronismo, pois pertencia ao grupo mais seleto de uma espécie em extinção: o dos intelectuais. Refletia com profundidade e originalidade, respaldado por uma enorme informação teológica, filosófica, histórica e literária, adquirida na dezena de línguas clássicas e modernas que dominava, entre elas latim, grego e hebraico. Embora concebidos sempre dentro da ortodoxia cristã, mas com um critério muito amplo, seus livros e encíclicas ultrapassavam com freqüência o estritamente dogmático e continham reflexões inovadoras e ousadas sobre problemas morais, culturais e existenciais do nosso tempo que leitores ateus podiam ler com proveito e, muitas vezes – como aconteceu comigo – com