Pancreatite aguda
A pancreatite aguda é um processo inflamatório do pâncreas com envolvimento variável de outros tecidos regionais ou órgãos à distância, conceito estabelecido na Conferência de Atlanta em 1992. É provocada pela activação não controlada da tripsina (enzima) nas células acinares do pâncreas. A activação enzimática conduz à digestão da glândula e à inflamação local. Em cerca de 80% dos casos, a pancreatite aguda é leve (edematosa) e os doentes recuperam sem complicações, mas os restantes 20% têm doença grave com complicações locais (necrose, hemorragia, fístula, pseudocisto, abcesso, estenose biliar) ou sistémicas. A sua evolução é determinada por 2 factores, que reflectem a gravidade da doença: falência de órgãos e necrose pancreática. Cerca de 10-20% dos casos evoluem para necrose e 30-40% destes para a forma infectada, acarretando morbilidade e mortalidade significativas.
Epidemiologia
A incidência da pancreatite aguda tem aumentado nas últimas duas décadas, oscilando actualmente entre 5 e 80 pessoas/100 000 por ano. Actualmente a pancreatite aguda é responsável por mais de 200 000 admissões hospitalares todos os anos nos Estados Unidos da América. Este aumento também é patente nos países europeus. A etiologia da pancreatite aguda define a sua epidemiologia. A taxa de recorrência da pancreatite aguda é relativamente elevada embora dependa dos factores etiológicos e das intervenções efectuadas em resposta a esses factores. Quase metade dos doentes com pancreatite aguda de etiologia alcoólica sofre recorrência, e este risco varia entre 32 e 61% nos casos de causa biliar não tratada. Depois de debelada a pancreatite aguda, cerca de um terço dos doentes desenvolve distúrbios funcionais tais como diabetes e esteatorreia. A incidência de pancreatite crónica após episódio agudo varia entre 3 e 13%. A pancreatite aguda é uma entidade potencialmente fatal, com uma mortalidade global de 2,1 - 7,8% mas que pode atingir os 30% nas formas graves.