Palladianismo
Valéria Salgueiro
1. Introdução
O presente trabalho se insere no campo da história das visualidades, a qual representa uma revisão metodológica da tradicional história da arte (com foco especialmente voltado às técnicas visuais e à análise dos estilos) que busca ampliar os limites de seu campo de observação e ferramentas de análise, incorporando a contribuição de outras ciências no exame do contexto social da arte tomada no seu sentido mais amplo, isto é, da cultura visual, inclusive de suas condições de produção e de recepção. O texto focaliza a arquitetura e o jardim na Inglaterra da primeira metade do século XVIII como produtos culturais diretamente relacionados ao momento social, político e econômico que o país vivia, e procura destaca-los como uma manifestação pioneira na Europa de uma cultura visual influenciada pelas idéias de ordem e razão que sublinharam o Iluminismo.
Na primeira metade do século XVIII condições especiais se entrecruzaram, favorecendo o surgimento de uma significativa produção de residências e jardins particulares por toda a Grã-Bretanha, responsáveis ainda hoje, em boa dose, pelo menos, por uma visualidade tipicamente britânica. Nem todos os exemplos sobreviveram ao tempo, embora muitos ainda estejam de pé e muito bem preservados, tendo sido convertidos pelo British Heritage em “patrimônio” – uma verdadeira obsessão no país já há algum tempo, conforme observou Urry . A arquitetura dita “palladiana”, e o chamado jardim “paisagista” constituem o foco deste trabalho, sendo encarados como uma inovação na cultura visual da Inglaterra da primeira metade do século XVIII, produtos do encontro de diversos fatores. Entre estes principais fatores poderiam ser destacados o enriquecimento e a prosperidade de setores da sociedade ligados à terra e ao comércio; a ascensão da idéia de