Pais e filhos por adoção
Em quase todos os tempos, culturas e civilizações sempre existiram e sempre existirão mães que, por inúmeras razões, abandonam ou entregam os seus filhos e, pessoas que, por não conseguirem ter filhos biológicos ou por razões humanitárias, criam, educam, amam e reconhecem como filhos crianças nascidas de outras mulheres. A humanidade sempre criou diversos arranjos sociais para o estabelecimento de outros tipos de dinâmicas familiares que não aquelas embasadas por laços de sangue. Atualmente a adoção é compreendida como a melhor maneira para proteger e integrar uma criança em uma família substituta.
Faço pesquisas sobre "abandono e adoção" de crianças no Brasil há mais de dez anos e continuo surpreendendo-me com o fato de que, apesar da adoção existir desde os primórdios dos tempos, ainda hoje repete-se o estereótipo que "filhos adotivos dão problemas, cedo ou tarde" ou "uma mãe nunca vai gostar do seu filho adotivo como gostaria de um filho da barriga. Isso tende a ser reforçado pelo sensacionalismo de casos dramáticos através da mídia e até pela inadvertida generalização de casos clínicos por parte de muitos psicólogos e psiquiatras, que publicam artigos e falam em congressos que "a perda dos pais biológicos é irreparável" e, conseqüentemente, determinante de todos os problemas.
A "cultura dos laços de sangue" é tão presente que faz com que as pessoas acreditem que estes laços são os únicos "fortes" e "duráveis" por serem "naturais" e "verdadeiros". Quando se fala comparativamente de famílias adotivas e não adotivas, geralmente são utilizadas as expressões: família adotiva versus família natural; ou filho adotivo versus filho verdadeiro, denunciando o preconceito por trás das palavras. Isso quer dizer que a filho