Painel Integrado O que é cidade
TEXTO BASE: ROLNIK, Raquel. O que é cidade. Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1988.
O ritmo acelerado, bem como a intensa concentração de pessoas, são atributos que definem as grandes metrópoles do mundo contemporâneo e costumam ser associados ao conceito de cidade. No entanto, o modo de vida configurado pelas primeiras civilizações está amplamente dissociado de tais características. A definição de cidade, portanto, deve ser completa o suficiente para compreender conformações independente do tempo e do lugar onde estão situadas.
Diante dessas circunstâncias, a primeira particularidade inerente à cidade é a sua classificação como um imã. Logo nas primeiras civilizações, iniciado o processo de sedentarização, percebe-se a sua capacidade de atrair, reunir e concentrar os indivíduos. É importante ressaltar que a cidade dos mortos precede a cidade dos vivos: a construção de templos que exaltavam os mortos funcionava como um campo magnético que convida as pessoas a se reunirem.
Outra habilidade peculiar da cidade diz respeito à sua aptidão em traduzir os conhecimentos e as riquezas de um determinado lugar. A arquitetura, o desenho das ruas e das casas refletem a experiência e o modo de vida das pessoas que o habitam ou habitaram, de modo a escrever, sem necessariamente utilizar palavras, a história de um povo. Em Salvador, por exemplo, as igrejas e outros edifícios civis do bairro do Pelourinho, apesar da degradação, funcionam como registro do enredo da primeira capital do Brasil.
Vale salientar que a categorização da cidade como imã e como escrita implica em considerar que um indivíduo é tão-somente parte de um conjunto. As aglomerações necessitam ser pensadas diante de um meio coletivo e carecem de uma autoridade político-administrativa capaz de gerir e organizar a vida pública. Dessa maneira, a existência de um poder central, além influenciar diretamente no contorno da cidade, ainda propicia o fomento da hierarquia e da segregação