Oswaldo Porchat, a Filosofia e algumas “necessidades de essência” roberto bolzani filho
bolzani filho, r.
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Oswaldo Porchat, a Filosofia e algumas
“necessidades de essência” roberto bolzani filho
(USP). E-mail: robertof@usp.br
“Pois é impossível negar que a filosofia claudica.
Habita a história e a vida, mas quereria instalar-se no seu centro, naquele ponto em que são advento, sentido nascente.
Sente-se mal no já feito. Sendo expressão, só se realiza renunciando a coincidir com aquilo que exprime e afastando-se dele para lhe captar o sentido.
É a utopia de uma posse a distância”.
Merleau-Ponty, Elogio da Filosofia
Entre os vários modos argumentativos elaborados pelo antigo pirronismo que se tornaram problemas clássicos em filosofia, figuram alguns de alcance bastante amplo e que parecem poder aplicar-se a todo discurso filosófico de intenções dogmáticas. Pois detectam e exploram certas dificuldades em que se veria enredada qualquer filosofia que pretendesse dar conta da realidade do mundo e a este conferir sua interpretação definitiva. Tais são os modos de suspensão de juízo atribuídos ao cético Agripa: o dogmatismo se encontra acometido de problematicidade pelo simples fato da discordância
(diaphonía) existente entre os vários discursos pretensamente verdadeiros e, portanto, reciprocamente excludentes; a relatividade a que tudo parece sujeito transforma toda tentativa dogmatizante em projeto condenado à incerteza, bem como a presença muitas vezes verificável de procedimentos argumentativos inaceitáveis, tais como assunção injustificada de pressupostos, regressão ao infinito, circularidade (cf. Sexto Empírico, 1976, I, 165 e segs.). A força crítica dessas estratégias antitéticas – com exceção talvez do modo da relatividade – se nutre de características intrínsecas ao universo dos discursos filosóficos: história da filosofia, quando estes são considerados simultaneamente e postos interrogativamente em cotejo; lógica
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Porchat, a filosofia e as necessidades de essência
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