Oscar Niemeyer
Introdução ao Estudo do Habitat
FAU-UNINILTON LINS
Como nasce a arquitetura
Oscar Niemeyer
De um traço nasce a arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte. Mas essa fase inicial exige por antecipação que o arquiteto se integre nos problemas tão variados do trabalho a executar.
A natureza do terreno, o ambiente em que será inserida a construção, o sentido econômico que ela representa, a orientação etc.
E somente depois de se inteirar de tudo isso é que ele começa a desenhar, fazendo croquis, na procura da idéia desejada.
É nesse momento de imaginação e fantasia que a solução aparece e nela o arquiteto se detém entusiasmado como alguém que encontrou um diamante e o examina com a esperança de ser verdadeiro e, lapidado, transformar-se numa bela pedra preciosa.
E os desenhos prosseguem. O arquiteto verifica então se a solução atende internamente ao programa fornecido, se os técnicos do concreto armado aceitam o sistema estrutural imaginado, se o dimensionamento correponde às seções fixadas, se tudo pode funcionar bem.
E se o meu método é adotado, ele começa então redigir um texto explicativo, procurando sentir se lhe faltam argumentos, que alguma coisa deve no projeto ser acrescentada.
Às vezes a idéia surge de repente. Foi o que me aconteceu com a mesquita de Alger, que resolvi durante a noite, levantando-me de madrugada para desenhá-la.
Outras vezes, uma simples perspectiva do conjunto é suficiente; como ocorreu no Memorial da América Latina, perspectiva que Ruy Ohtake guarda como lembrança.
É curioso ver esse rolo, sentir como a imaginação varia, como as idéias vão surgindo diferentes, ora com dois ou três volumes, ora simples, caminhando para o monumental. Em todas prevalece a curva, essa liberdade plástica que preferimos, decorrente de "tudo que vimos e amamos na vida", como me disse um dia André Malraux do seu museu
imaginário.