Os tropeços da ciencia triste
De Luiz Gonzaga Belluzzo A economia é uma (vá lá) ciência difícil. Keynes dizia que os requerimentos exigidos do bom economista eram muitos: ele deveria combinar os talentos do “matemático, historiador, estadista e filósofo (na medida certa). Deve entender os aspectos simbólicos e falar com palavras correntes. Deve ser capaz de integrar o particular quando se refere ao geral e tocar o abstrato e o concreto com o mesmo voo do pensamento. Deve estudar o presente à luz do passado tendo em vista o futuro. Nenhuma parte da natureza do homem deve ficar fora da sua análise. Deve ser simultaneamente desinteressado e pragmático: estar fora da realidade e ser incorruptível como um artista, estando embora, noutras ocasiões, tão perto da terra como um político”.
No livro The World in the Model – How economists work and think, Mary S. Morgan conta a história da “evolução” da dita ciência econômica: a longa e controvertida caminhada da Economia Política para a “economia científica” concentrada na construção de modelos formais ou na utilização de técnicas econométricas para demonstrar relações de determinação entre variáveis a partir de supostos teóricos discutíveis.
A modelística macroeconômica contemporânea não foi capaz de realizar a delicada operação sugerida por Keynes de “integrar o particular quando se refere ao geral e tocar o abstrato e o concreto com o mesmo voo do pensamento”.
O exemplo mais conspícuo desse fracasso ontológico e epistemológico foi sintetizado na resposta que o nobelizado Robert Lucas deu à indagação da rainha Elisabeth II, depois da crise. Em visita à London School of Economics a rainha perguntou por que os economistas não haviam previsto a crise. Lucas respondeu em um artigo na revista The Economist em 2009: “A crise não foi prevista porque a teoria econômica prevê que esses eventos não podem ser previstos”.
Os economistas parecem dar de ombros às mágoas da gente leiga, ainda que instruída e letrada nas coisas da