OS SERTÕES - UMA LEITURA
A primeira reação à proposta de leitura e comentário de Os sertões é a peremptória recusa, e, reconheça-se sem pejo, de puro medo. Nada se dirá de novo, a obra é demasiado importante, seria temeroso comentá-la fora do restrito círculo de amigos, cogita-se. Mas vence um argumento imbatível: nada há a perder.
Folheadas as primeiras páginas, e constatada a aridez do terreno, teme-se que resulte inútil ou no mínimo pouco proveitoso, o esforço. Mas logo surpreende que essa mesma aridez se revele estimulante; residente, sobretudo, na pujança vocabular; dificuldade cativa o leitor que, dicionários à mão, atenta para o farto material de estudo. Logo se evidencia o quanto o brasileiro carece de informações precisas acerca de sua história, e pouco a pouco nos deixamos enredar pela apaixonada narrativa-reportagem.
O episódio de Canudos foi alvo de investigação de vários outros autores: Afonso Arinos publica, em l898, Os jagunços, romance centrado no personagem fictício Luís Pachola, que teria sido um dos fundadores do Arraial de Belo Monte. No ano seguinte, Manuel Benício publica O rei dos jagunços: crônica histórica e de costumes sertanejos sobre os acontecimentos de Canudos. Mais recentemente, o peruano Vargas Ljosa e o húngaro Sandor Márai tomam a obra de Euclides como inspiração e referência para seus romances.
OS Sertçoes é o mais legítimo retrato de um fato histórico já pintado na literatura brasileira, e seu conteúdo sociológico, geográfico e até moral não é de desprezar-se.
Escrito no decorrer de cinco anos da agitada vida de engenheiro do autor (segundo suas próprias palavras, em nota introdutória), Os sertões é obra singular e de reconhecida importância nas letras nacionais, e foi traduzida para uma dezena de línguas cultas.
Longe do estilo ‘enxuto’ que seria de esperar-se do texto "jornalístico", a linguagem literária, bem ao gosto da época, mescla à precisão das imagens a propriedade dos termos científicos. São também