Os sentidos da indisciplina
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**regras e métodos como práticas sociais**
José Sérgio F. de Carvalho
Ao ser convidado para participar de uma coletânea de artigos sobre o problema da indisciplina no contexto escolar, abordando-o numa perspectiva filosófica, perguntei-me que tipo de contribuição poderia dar um professor de Filosofia da Educação (e ex-professor de Filosofia no Ensino Médio) a um tema tão complexo como este e que, em nossos tempos, tem sido abordado mais freqüentemente por outras áreas do saber, como a Psicologia e a Sociologia.
O caminho mais comum à tradição dos estudos em Filosofia da Educação seria comentar as reflexões de um autor clássico sobre o assunto. E, de fato, vários seriam os possíveis autores, uma vez que as questões da disciplina, do hábito, das regras e de seu cumprimento ou transgressão foram amplamente analisadas ao longo da história da filosofia e, muitas vezes, sob formas que ainda guardam interesse. Entretanto, não é este o caminho que desejaria propor neste pequeno ensaio.
Ocorreu-me também, provavelmente como fruto dos anos em que lecionei no segundo grau, que o problema da disciplina ou de sua ausência (o da indisciplina, tema desta coletânea) parece freqüentemente apresentar-se ao professor como algo imediato, urgente e concreto, com o qual ele lida cotidianamente, que lhe demanda posições definidas e que, portanto, suscita pelo menos o desejo de que se faça uma abordagem até certo ponto operativa do tema, que se proponham medidas ou soluções mais ou menos abrangentes, eventualmente afinadas ou aparentemente deduzidas de uma filosofia ou teoria da educação em particular.
Gostaria de deixar claro desde já que, mesmo reconhecendo a relevância desse caráter prático do problema, tampouco será esse o caminho aqui proposto. Isto porque não tenho máximas pedagógicas deduzidas de uma teoria da educação ou de uma doutrina filosófica, nem palavras de ordem e slogans a respeito da