Os novos limites do possível
Por André Lara Resende | Para o Valor, de São Paulo
A crise financeira mundial já vai completar quatro anos, mas ainda não dá sinais de que esteja por se esgotar. Pelo contrário, parece não haver economia no mundo, das mais pobres às mais avançadas, que esteja imune a seu agravamento. O paralelo com a Grande Depressão do século XX é cada vez mais frequente entre os analistas. Acreditava-se que o antídoto para crises destas proporções havia sido descoberto, mas no mundo de hoje existem novas restrições que podem inviabilizar as saídas conhecidas.
A analogia assusta, não apenas pela duração e pela profundidade da Depressão, mas, sobretudo, pelas consequências. A crise de 30 encerrou um período de internacionalização e de prosperidade mundial. Exacerbou o nacionalismo, o protecionismo e a xenofobia que levou ao fascismo, ao nacional-socialismo nazista e, finalmente, às tensões que desembocaram na Segunda Grande Mundial.
Assim como no início dos anos 30, com o fim da Primeira Guerra a exaustão de um longo ciclo de prosperidade deixou um legado de endividamento público e privado de difícil digestão. Como nos anos 30, temos hoje o esgotamento do padrão monetário estabelecido e uma potência hegemônica em crise, prestes a ser superada por uma nova estrela econômica e militar.
Neste início do século XXI, a insistência na saída keynesiana da retomada do crescimento pode ser uma ortodoxia anacrônica. Ainda nos anos 30, John Maynard Keynes estabeleceu as bases conceituais de um fecundo debate sobre as causas, as consequências e as políticas necessárias para evitar a repetição de uma experiência tão traumática. Mais surpreendente ainda do que as semelhanças objetivas é constatar que o debate hoje continua pautado pela mesma polarização dos anos 30: de um lado, o fiscalismo e a ortodoxia monetária; do outro, a defesa da retomada do crescimento, através dos gastos públicos e de novos estímulos ao consumo.
Em "Lords of Finance",