Os negros no período colonial e imperial
Tema: Os negros no período colonial e imperial;
O inferno dos africanos
Sobre os escravos africanos foram projetadas imagens bem mais negativas do que a escravidão referenciada aos indígenas. A África é tida,à época, como o lugar do pecado, das trevas e da infidelidade. Ao contrário do que se pensava dos ameríndios, não haveria nenhuma vinculação dos negros da Guiné, como eram conhecidos, com o paraíso terrestre (como era conhecida de início a América). As origens bíblicas destes estariam ligadas a duas maldições, ambas posteriores ao pecado original. Eles seriam descendentes de Caim, aquele que por inveja matou seu irmão Abel, e traziam na pele a cor negra, marca do sinal imposto por Deus, ou então, membros da geração de Cam, filho de Noé, que desonrou seu pai e por isso foi condenado, juntamente com seus filhos, à escravidão.
A retirada dos africanos de seu continente era, para as justificativas que se elaboraram sobretudo no século XVII, um milagre da providência divina, engodo sustentado por católicos e protestantes. Pela travessia atlântica e pelo batismo, o escravo era trazido à fé, o que pode ser entendido como injustiça era tido como uma afável “graça”.
Com exceção de alguns religiosos e teólogos, indignados com a comercialização de seres humanos, a maior parte dos clérigos de todas as ordens não só aceitava como estimulava e justificava a escravidão africana. Muitos deles participaram diretamente do apresamento e da venda de negros na costa africana, de onde estes eram enviados para vários pontos da América.
A América seria o lugar da purgação dos pecados bíblicos atribuídos aos africanos. Mais uma vez, pelo trabalho e sofrimento, os impuros ficariam limpos e poderiam, depois de mortos, entrar no reino de Deus. Nas palavras de Vieira, em suas vidas na colônia tinham “os escravos o seu purgatório”, engrossando o discurso dominador típico das organizações que dizem possuir o “monopólio da fé” e