Os media deixam-se manipular?
in “A mediação do discurso político pela comunicação social” (2004)
Vera Cândida Pinto Gomes
“…Televisão, os jornais e a rádio contam muito menos do que todos nós supomos.”
Luís Salgado de Matos
Os recentes acontecimentos em Espanha mostraram que na sociedade da informação já não é possível manipular claramente os dados sem que disso se seja penalizado. Várias vozes se levantaram, afirmando que o resultado das eleições de 14 de Março foi uma punição ao Partido Popular de Aznar pela manipulação de informação e pelas mentiras divulgadas ao povo espanhol.
No passado dia 11 de Março, Espanha acordou com o terror de um atentado na sua capital, Madrid, a apenas três dias das eleições espanholas que deram a vitória ao PSOE e a José Zapatero. Aznar, chefe do governo espanhol aquando do atentado, foi acusado de manipular informação acerca do autor do sinistro, uma vez que foi tornado público que o então Chefe de Governo espanhol, estabeleceu vários contactos com os directores dos órgãos de comunicação social, dando a sua garantia pessoal em como os atentados tinham sido perpetrados pela ETA, ocultando a existência de uma pista islâmica. Para além da atitude de José Maria Aznar, a Ministra dos Negócios Estrangeiros de Espanha enviou uma directiva às representações diplomáticas para que afirmassem a inegável culpabilidade da ETA.
Contudo, as desconfianças de manipulação de informação começaram a surgir quando Angel Acebes, ministro do interior espanhol, afirmou que não descartava qualquer hipótese do autor dos atentados do 11 de Março, embora a ETA permanecesse na primeira linha de suspeitos, mas que a descoberta de uma carrinha com detonadores e gravações de passagens do Corão obrigava a uma nova frente nas investigações.
A partir deste momento, percebeu-se que entre Governo e Polícia nem tudo corria bem e que a informação avançada sobre a pista islâmica era já conhecida em alguns sectores políticos e dos órgãos de