Os manuais escolares (de história) como “lugares de memória” – perspetivas de análise
«Os manuais escolares acompanham trajetórias didáticas, fomentam ódios de estimação, despertam amores que perduram para sempre, antecipam destinos, apontam percursos multidireccionados, substituem professores, alongam-se em explicações, valorizam originalidades, arquivam compilações, engendram complicações, enervam ou alegram os alunos, (...). A verdade é que os manuais continuam a ser best-sellers imprescindíveis, situam-se nos tops mais vendidos em Portugal, ainda que não escapem a polémicas, acusações e críticas» (Brito, 1999: 142).
Introdução: Ensaia-se aqui a articulação entre o conceito de lugar de memória e os manuais escolares, no sentido de verificar qual o seu impacto na estruturação do ensino da história. Os manuais são vistos como fontes privilegiadas para estudar as conceções de ensino da história.
1. Os “lugares de memória” e a história A História é, em certa medida, entendida como o repositório de todo um conjunto de representações míticas e simbólicas que contribuem para a preservação da consciência coletiva. O ensino da história assume, deste ponto de vista, uma função fortemente integradora, pretendendo fomentar o sentimento de pertença a uma comunidade de história e de destino e a uma comunidade simultaneamente imaginada e construída. O debate acerca das finalidades do ensino da História é um dos mais significativos, no sentido de compreendermos a importância de que se reveste a sua inclusão no currículo escolar e, no fundo, a função social que lhe é atribuída. Desde já, será oportuno atentar para o facto de que a Memória e a História são termos distintos e geram espaços de saber diferenciados. A Memória, portanto, já não pode mais nos dias de hoje ser associada metaforicamente a um “espaço inerte” no qual se depositam lembranças, devendo ser antes compreendida como “território”, como espaço vivo, político e simbólico no qual se lida de