os lusiadas
AGORA tu, Calíope, me ensina 1o Agora tu, Calíope (1), me ensina
O que contou ao Rei o ilustre Gama; A relatar o que contou ao rei, o ilustre Vasco da Gama;
Inspira imortal canto e voz divina Inspira um canto imortal e uma voz divina
Neste peito mortal, que tanto te ama. Neste meu coração mortal, que tanto te ama.
Assi o claro inventor da Medicina, E então farei com que Apolo, o deus da medicina,
De quem Orfeu pariste, ó linda Dama, E com quem gerastes Orfeu (2), ó linda dama.
Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe, Jamais te troque por Clicie (3), Leucotoe (4) ou Dane (5)
Te negue o amor devido, como soe. E nem te negue o amor devido ou lhe engane. 1) Calíope: Musa da poesia épica e da eloqüência, mãe de Orfeu. 2) Orfeu: Poeta e músico da antiguidade, natural da Trácia 3) Clicie: Ninfa apaixonada por Apolo que, para acompanhá-lo sempre, transformou-se em girassol. 4) Leucotoe: Ninfa amada por Apolo. 5) Dane: Ninfa que ao ser assediada por Apolo pediu socorro à mãe Terra e foi metamorfoseada em Loureiro. Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo, 2o Ponha, ninfa, arte em meu desejo
Como merece a gente Lusitana; De louvar como merece a gente lusitana;
Que veja e saiba o mundo que do Tejo Que todo mundo saiba e veja que às margens do rio Tejo
O licor de Aganipe corre e mana. A água da fonte de Aganipe (1) corre e emana.
Deixa as flores de Pindo, que já vejo Deixa as flores do monte Pindo (2) que eu já vejo
Banhar-me Apolo na água soberana; Os raios de Apolo (do sol) banharem-me em sua luz soberana;
Senão direi que tens algum receio Senão direi que tens receio
Que se escureça o teu querido Orfeio. Que o meu canto obscureça o talento do teu querido Orfeio (3). 1) Fonte de Aganipe: Situada no monte Helicon, na Grécia, suas águas inspiravam os poetas. 2) Monte