"Os espelhos" de machado de assis e guimarães rosa
Sheila Grecco (USP) Machado de Assis e Guimarães Rosa são os autores que possuem maior fortuna crítica em nossa literatura. São, por assim dizer, os mais lidos e treslidos pela crítica universitária, que a eles prestou tributo com dissertações, teses, livros, simpósios1. O escritor carioca já recebeu o severo julgamento de Silvio Romero, um dos expoentes da crítica naturalista no Brasil. Em um dos seu maiores equívocos literários, ele alegou faltar a representação das "cores locais" na obra machadiana e denunciou o seu suposto afastamento das questões político-sociais, em 1897. Astrojildo Pereira e Raymundo Faoro trilharam a leitura sociológica, mas foi com Roberto Schwarz que ela marcou espaço. Schwarz foi um dos primeiros a demonstrar a relação dessa produção com os modos de ser da sociedade brasileira, observando a situação de dependência que nos rege, a partir da figura do agregado em Dom Casmurro e perscrutando a crítica, feita através da volubilidade narrativa que a muitos enganou, à sociedade escravagista, patriarcal e hipócrita do século 19.
Com uma obra relativamente pequena em comparação a um Machado de Assis, ou mesmo de um Mário de Andrade, Guimarães Rosa chamou para si todas as esferas de interpretação. Para compreendê-lo a crítica teve de reavaliar seus métodos, transitando por inúmeras escolas, do estruturalismo à fenomenologia, da psicanálise à filosofia, descartando, curiosamente, o emprego de fontes documentais de natureza histórica e/ou jornalística. Fatos literários e extra-literários foram tratados sem discriminação. Os depoimentos do autor tornaram-se balizas sobre o que descartar ao interpretá-lo: "embora eu veja o escritor como um homem que assume uma grande responsabilidade, creio entretanto que não deveria se ocupar de política"2 ou, então, como apregoa na introdução, mais fictícia mas lida como teoria literária, de Tutaméia: "A estória não quer ser história. A