Os colégios jesuíticos e a institucionalização da educação escolar

Os colégios jesuíticos e a institucionalização da educação escolar (p. 23-33)

Alguns conceitos-chave: comércio social (Revel); aprendizado de um script adulto (Durkheim).

Na Idade Média a criança existia enquanto membro da linhagem; a família definia as identidades. Mas a partir do século XV, as realidades e os sentimentos da família se transformariam (Ariès). Roger Chartier cita seis categorias que norteariam essa mudança quanto a comportamentos e sensibilidades:
a) A civilidade.
b) O autoconhecimento.
c) A solidão.
d) A amizade.
e) O gosto.
f) A comodidade.
Vamos explorar dois: a civilidade e o gosto.
Chartier afirma que a primeira “suscita atitudes novas com relação ao corpo”. De fato, durante o Renascimento, a abertura da mente não deixa de ser acompanhada por práticas de controle minuciosas sobre o corpo. Por isso também o mesmo autor define essa emergente civilidade como “a arte sempre controlada de representação de si mesmo para os outros”. Jacques Revel complementa: “projeta o indivíduo para fora de si mesmo e o expõe ao elogio ou à sanção do grupo. As regras de civilidade que se impõem podem ser compreendidas como uma manobra para limitar ou mesmo negar a vida privada”. E Erasmo escreveu: “convém, portanto, que um homem preste atenção à sua aparência, aos seus gestos, e à sua maneira de vestir, tanto quanto à sua inteligência”.
Woortmann se refere às condutas públicas e privadas como “favoráveis à acumulação do capital”, e destaca: ascetismo, disciplina, autodomínio, racionalidade, sobriedade, interioridade e individuação.
A civilidade dirige-se à puerilidade. Pueril é o indivíduo que já fala correntemente, com vocabulário adequado; mas não é criança e nem adulto. Os pueris estão na etapa de transição: do menino para o homem; da infância para a idade madura; da família para a vida social.
E de que família e vida social estamos falando?
Na passagem da Idade Média para a Moderna, há um novo modelo de família em formação, que se