Os arokin
Paulo Fernando de Moraes Fmhs *
Para Waldir Freitas Oliveira e Vivaldo da Costa Lima.
Os 300 anos de resistência negra no Brasil representam um trabalho histórico difícil (mas coroado de sucesso) de preservação de heranças culturais trazidas da África. Não é preciso dizer que "preservação" e "tradição" não significam imobilidade. Muito pelo contrário, sabemos que abrangem inovações, amálgamas, reinterpretações, reinvenções, e várias formas de combinação do novo com o antigo, e do próprio com o que é tomado emprestado e apropriado. Isso s e aplica até aos rituais, embora uma parte da literatura especializada internacional continue a vê-los como repetição de estruturas imutáveis, e como um desafio a passagem do tempo. Como s e pode observar na própria África, cada recelebração de um ritual encerra um potencial d e novidade: alke possibilidades d e improvisação e reinterpretação, e de reconsideração de'alternativas - ainda que esse potencial não seja necessariamente ativado em cada oportunidade. É também para transformar-se que os rituais existem e s e repetem.' A preservação de heranças culturais tem operado em contextos políticos, econômicos, e religiosos, muito diferentes na h c a e na Bahia. Mas é útil comparar o que tem acontecido lá e aqui, se quisermos apreender o potencial de influências recíprocas presente no vínculo que continua a existir (às vezes mais, as vezes menos diretamente) entre o coniinenie &cano e a diáspora
* Cenlro d e Estudos Afro-Orientais, (UFBa), e Centre of West African Studies (Uirminghan~Univcrsily, Inglaterra).
Sobre isso ver Margaret T. Drcwal, Yoruba Ritual: Perforrtrers, Play, Agency, Bloomington c lndianapolis, 1992; A. Aptcr, "Quefaire ? Reconsidering Inventions of Aírica", Critical Enquiry 19, (1992), pp. 87-104; A. Apter, Black Critics and Kings: The Herrneneutics ofPower in Yoruba Society, Chicago e Londres, U. Of Chicago Press, 1992 , pp. 213-224; T