os agrafos
Antígona
TRADUZIDO DO GREGO POR
D ONALDO S CHÜLER
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Prólogo
ANTÍGONA
Comum no sangue, querida irmã, caríssima Ismene, sabes de algum mal, dos que nos vêm de Édipo, que Zeus não queira consumar em nossas vidas?
Nada – angústia, infortúnio, humilhação, desonra –, não há
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mal que eu não veja cair sobre ti, sobre mim.
E agora... Que novo decreto – propalam – é este que o general acaba de proclamar em toda a
[cidade?
O que sabes? Ouviste algo? Ou ignoras que atacam a entes queridos nossos – malefícios
[vindos de inimigos?
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ISMENE
Eu? Nenhuma notícia, Antígona, sobre queridos tenho nem doce nem dolorosa, desde quando
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ambas perdemos nossos dois irmãos, num só dia, um aos golpes do outro.
Com a retirada do exército argivo
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à boca da última noite, informação alguma me veio que pudesse agravar ou aliviar a dor.
ANTÍGONA
Bem o sabia. Por isso mesmo te trouxe para fora das portas do palácio a fim de que me
[ouças a sós.
ISMENE
De que se trata? Proferes palavras inquietantes.
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ANTÍGONA
Não conheces o decreto de Creonte sobre nossos irmãos?
A um glorifica, a outro cobre de infâmia.
A Etéocles – dizem – determinou dar, baseado no direito e na lei, sepultura digna de quem desce ao mundo dos mortos.
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Mas quanto ao corpo de Polinice, infaustamente morto, ordenou aos cidadãos, comenta-se, que ninguém o guardasse em cova nem o pranteasse, abandonado sem lágrimas, sem exéquias, doce tesouro
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de aves, que o espreitam famintas.
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As ordens – propalam – do nobre Creonte, que
[ferem a ti e a mim, a mim, repito, são estas, que vem para cá com o propósito de anunciar as ordens aos que ainda não
[as conhecem explicitamente. O assunto lhe é tão sério que, se alguém transgredir o decreto,
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receberá sentença de apedrejamento dentro da cidade.
É o que eu tinha a te dizer; mostrarás agora se és nobre ou se, embora filha de nobres, és vilã.
ISMENE