Origens da habitação social no Brasil - INTRODUÇÃO
Nova Friburgo, RJ, novembro de 1994
Depois de passar por duas barreiras televisivas montadas pelo exército em torno do Rio de Janeiro para evitar a fuga dos traficantes das favelas cariocas, chegamos, debaixo de um sol tórrido de quase verão, ao nosso destino.
Ali, na tranqüilidade de um sitio na serra, logo apareceu o homem que buscávamos. Surpreso por verificar que realmente tínhamos lá chegado - superando o ceticismo de um velho arquiteto esquecido - ele perguntou interessado: como é que vocês me descobriram aqui?
De fato era uma descoberta nesse momento. Frente a Carlos Frederico Ferreira, de 88 anos, o arquiteto do Realengo, primeiro grande conjunto habitacional construído no Brasil. que havia coordenado o setor de arquitetura do IAPI até 1964 e depois desaparecido, como tantos outros, da historia da arquitetura brasileira, ficou claro que aquilo não teria mais fim. Era necessário concluir, mesma que preliminarmente, esta pesquisa sobre as origens da habitação social no Brasil e finalizar o doutorado que deu origem a este livro. Para, em seguida, Investigar e registrar sistematicamente (antes que desapareça totalmente) a enorme e desconhecida produção de habitação social e arquitetura realizada antes do BNH, tarefa apenas iniciada neste livro e que passamos a realizara partir de 1995 {Bonduki et Sampaio, 1995).
De fato, alguns meses depois, Carlos Frederico teve um derrame e deixou-nos para sempre; os arquivos do INSS, onde foram "guardados" os documentos relativos à produção habitacional dos IAPs, estão tão destroçados quanto à previdência pública; os conjuntos residenciais então construídos como "serviços públicos" privatizados e individualizados depois do golpe de 1964, se descaracterizaram. A imagem de uma faceta importantíssima da era Vargas e de suas propostas para o modo de vida dos trabalhadores desaparece, sem que seja conhecida e, pior, num momento em que a política vigente no pais a condenou a morte.
Chegar até Carlos