Organização do currículo
Sílvio Gallo
1. ABRINDO A QUESTÃO...
Estamos acostumados, nas escolas, a trabalhar no contexto das chamadas “grades curriculares”. Em geral, elas são compostas por disciplinas, cada uma delas representando uma área do conhecimento humano. Acostumamo-nos com esta realidade, pensamos que seja “natural” que aconteça assim e, raramente, nos perguntamos qual a razão disto.
Quando olhamos para a história, porém, vemos que esta tendência é antiga. Ainda durante a antiguidade grega e romana veremos diferentes exemplos de conjuntos de saberes que eram chamados a compor o conjunto de “artes e ciências” a serem aprendidas. As diferentes áreas – podemos dizer disciplinas – sofreram uma série de alterações, culminando na organização dupla feita por Marciano Capella (410-439) sob o nome de trivium (gramática, retórica e filosofia) e quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música), que dominaria todo o período medieval, articulada com os estudos da fé, e seria a base mesma da educação da modernidade.
Subjacente a esta concepção de educação e de currículo, estava a noção de que o mundo, a realidade, constitui uma totalidade que não pode ser abarcada completamente pelo espírito humano. Portanto, é necessário dividir os saberes em áreas, em aspectos distintos, que devem ser estudados, aprendidos e articulados, numa visão enciclopédica (os gregos falavam em enkyklios paidéia, uma formação geral e completa; a palavra “enciclopédia” deriva da noção de círculo – kyklios –, símbolo da totalidade e da completude para eles). Assim, podemos dizer que o processo educativo implica a perda da totalidade da ignorância para, através da análise (que, por sua vez, significa a divisão em partes), possibilitar o conhecimento e, finalmente, recuperar a totalidade, agora como sabedoria. Eu diria que esse é o fundamento primeiro de uma filosofia do currículo disciplinar.
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