Onze
Em sua obra de estréia, autora harmoniza o social e o psicológico no drama dos retirantes.
Publicado em 1930, o romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, não desfez o contraste que ainda hoje persiste entre o êxito da estréia e a "singularidade mediana" com que superou o naturalismo provinciano de um romance como A Fome (1890), de Rodolfo Teófilo, por exemplo, mas não a estrutura fragmentária da narrativa de A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, inegavelmente marcado pela escrita elíptica dos modernistas, Oswald de Andrade à frente.
É verdade que se tratava, como bem assinalou Augusto Frederico Schmidt, "de uma mocinha de 19 anos", que trazia então, com todos os riscos de uma obra de estréia, uma contribuição expressiva à vasta matéria da literatura das secas.
E o fazia de modo tão convincente que, nas palavras do poeta do Canto do Brasileiro, deixava longe a literatura exaltada e sem entusiasmo de um romance como o Viagem Maravilhosa, do modernista Graça Aranha, "em que a complicação - segundo Schmidt - pretendia esconder a mediocridade irremediável da alma".
Mas lembremos que tal novidade, que aparece n'O Quinze como uma espécie de outra face do modernismo - a da paisagem social e humana de um Brasil embrutecido e atrasado que a ficção regionalista de 30 depois nos revelaria a fundo -, se comparada ao conjunto das obras que compõem o ciclo inaugurado pela Bagaceira, mais do que um avanço estético no arranjo do texto, o que fez foi escapar ao peso do contexto social do romance anterior e assim liberar a subjetividade das personagens, que passam então a falar e a agir fora do esquadro da observação naturalista.
Daí a nova atitude que o romance assume frente ao drama dos retirantes da seca, vistos agora de uma perspectiva que harmoniza o social e o psicológico sem perder o foco de entrada para alguns temas políticos da maior importância para a época, entre eles o da afirmação social da mulher (no caso, a protagonista Conceição) naquele