Ontem Ao Olhar Me No Espelho
Ontem, ao olhar me no espelho.
Vi a minha face, exatamente como era, eu pelo menos aparentava ser.
Percebi meus traços, minha silhueta.
Eu tinha cicatrizes, eu tenho cicatrizes. Não são cicatrizes que um dia sangraram, são as cicatrizes que afetam o brilho dos olhos.
O tempo que passei me encarando, e me encarando de volta. Foi um tanto quanto deprimente. Minha pele jovem tornou-se flácida, e depois de um tempo, úmida. Por ela não ser como eu gostaria.
Olhei-me novamente outro dia, otimista.
Pensei comigo mesma que tais defeitos eram vistos só por mim, ainda assim. Eu não quero ter defeitos.
Inundei os meus defeitos. Novamente.
Repeti.
Vi coisas além de minhas cicatrizes e meus defeitos faciais. Vi a minha personalidade escorrendo por um buraco qualquer.
Ela não era agradável e eu a queria mudar.
Eu pensei demais, isso foi um castigo. Por que eu fui castigada?
Olhar-me não deveria ser um castigo.
Fora as decepções. Senti-me fantasiada de mim. Como se eu estivesse vendo tudo através dos olhos como uma janela. Eu estava sempre à espreita, eu não enxergava a mim. Quem seria eu então?
Questionamento existencial.
Eu existo?
Algo existe?
O que é existir? Isso é relativo, conclui.
Tudo é relativo.
Teria eu enlouquecido?
A loucura é relativa, como disse Woody Allen.
Um reflexo, fez perguntar-me o porquê de existir. Olhar a si mesmo pode ser desastroso, isso deveria ser proibido.
Nada tem nexo, nem o próprio reflexo. Que cumpre sua função de refletir.
O reflexo abre portas, você vê as coisas olho no olho. Coisa que apenas espelhos podem mostrar, você só as enxerga quando postas a frente de um espelho.
Existem muitos espelhos. Além dos de vidros e emoldurados.
Nós somos espelhos.
Nós somos o reflexo. Que te encara de volta quando um corpo se põe de frente a um espelho.