Onde Me Levas
“A noite do século” eles gritavam, brindavam em nome de Deus, deuses e deusas e outro em nome do vinho e do dinheiro, repudiando deuses e crendices. “Tudo que importa é o que vemos”, disse ele. Conversavam sobre o sentido da vida, o por que disso tudo, se era todo o prazer a solução para tristezas ou se era justamente sua falta que faria-os bem, se tudo aquilo era uma mera ilusão e um sonho. Mal do século, como num futuro haveriam de chamar. Um deles se levantou e mandou os outros se calarem, pois as mulheres já repousavam, como mortas, em seu sono alcoólico. Eles se calaram, e um deles começou a murmurai uma historia que queria contar.
Sentia-me em um corpo que não era o meu.
Essa, pelo que vejo, será uma noite regada a sangue, luto e prazer. Ergam seus copos e bebam. Que os fantasmas de nossas histórias nos guiem nesta noite do século. Bebamos! Nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Secam como as flores! ------------------------------------------------------------------------------------------------
A noite ia alta. As histórias e a orgia findara. Todos ali dormiam repletos, nas trevas. Eis que de repente vejo uma moça, vestida de negro, molhada pela chuva, entrar em passos lentos, com uma lanterna e algo de metal em sua mão. Ela olha para os lados, como se procurasse alguém.
Vejo ela aproximar-se de mim. Olha-me nos olhos por alguns segundos. Começo a recordar-me daquele rosto que outrora fora belo, mas agora lábios pretos e uma pele pálida. O mais belo de todos. Giorgia. Esse era o nome. Minha amada há muito perdida. Enquanto me fitava, vinham como lembranças. Um jogo de bilhar, um duelo a queima roupa, meses