olhos que sabiam ouvir
ABRIL
2014
Celso Sisto
LEITE, Daniel da Rocha. A história das crianças que plantaram um rio. Ilustrações de Maciste Costa. Belém, Ponto Press, 2013.
Olhos que sabiam ouvir
Não basta olhar! Há coisas que só se revelam inteiramente se forem examinadas com persistência. É quase um ritual. A conversa sorridente ou luminosa da natureza requisita silêncios para que as palavras ganhem sentido e sejam vividas.
O menino, volta no tempo, mais de quarenta anos depois, para lembrar-se da sua casa junto ao rio. Evoca o seu lugar de origem, o espaço familiar, o tempo das enchentes e da estiagem. Venera o rio, que por vezes, no período das cheias, passava mesmo debaixo de sua casa, e por outras, recuava. E entre essas lembranças, que vêm e que vão, surge imponente a figura da avó, grande conhecedora das histórias e dos mistérios amazônicos, do ver, do ouvir e do sonhar. Sentados na beira do trapiche, a avó ensinava o menino a conversar com o rio e a vivenciar as histórias. Mergulhado nas recordações, o menino confessa sua amizade com o rio, descobre-se rio também, admite a falta que fazem as histórias da avó e relembra a mais marcante de todas, a do dia em que levaram o rio embora e foi preciso que viessem crianças de todos os lugares do mundo, que cantassem para o céu, para que a chuva viva caísse na palma da mão daqueles meninos e meninas, e lhes trouxessem a chance de plantar um novo rio. Hoje, novamente aquele menino lembra-se dessa história cada vez que têm notícias de que um rio está morrendo.
Neste livro estamos diante de alguns fragmentos de memória. A narrativa em primeira pessoa, volta no tempo, para reconstruir pedaços do passado. Explorando um registro textual em prosa poética, o narrador adulto, depois de mais de 40 anos, revisita acontecimentos que marcaram sua vida. Ele vai e volta no tempo. Descobre que se fechar os olhos, pode voltar a ser menino.
O elemento água e a figura do rio dominam as lembranças. O rio mora