Olhar e ser visto
A FIGURA HUMANA: DA RENASCENÇA AO CONTEMPORÂNEO
Teixeira Coelho
(Curador-Coordenador MASP)
O retrato pertence a um dos mais antigos e ao mesmo tempo renovados gêneros da Arte. Provém de um período histórico anterior mesmo à própria ideia de Arte tal como hoje é entendida, um conceito que remonta apenas ao início da primeira modernidade ocidental, localizada, com alguma flexibilidade, ao redor do final do século XIV. É a esse gênero ancestral que pertence aquele que é, muito provavelmente (e não importam os motivos), a mais famosa pintura existente: Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, capaz de, sozinha, levar multidões ao Museu do Louvre.
O retrato procura responder a uma pergunta fundamental: quem sou eu, qual é afinal minha imagem, como me pareço? Essa é a pergunta básica que faz, a um artista, aquele que lhe encomenda um retrato, e essa foi e continua a ser a pergunta que muitos artistas fizeram e fazem a si mesmos. Nem mesmo a arte contemporânea foi capaz de abolir esse gênero – ao contrário. O ser humano continua a ser o primeiro objeto de reflexão e o primeiro espetáculo para si próprio. Nem mesmo o aparecimento da fotografia, e do cinema, foi capaz de abalar o lugar ocupado pelo retrato na pintura, que fascina com a variedade de modos pelos quais foi capaz de responder a essas perguntas.
No momento em que a imagem pode circular tão livre e rapidamente quanto possível, pela internet e por outros veículos de transmissão, ter acesso à obra mesma, no original, é uma experiência cujo significado precisa ser ressaltado.
O retrato é um dos gêneros mais poderosos das artes visuais, com presença e influência constantes na História da Arte, dos tempos mais remotos à contemporaneidade mais ousada. Há 27.000 anos já se faziam retratos, como ficou evidente com a descoberta, em 2006, de um rosto humano desenhado nas paredes da gruta de Vilhonneur, França – um desenho que, com suas arestas cubistas, encantaria o Picasso de Les Demoiselles