Olavo bilac - literatura
POESIAS
Olavo Bilac
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POESIAS
Soneto
Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
Pobre, no bem como no mal padeces;
E rolando num vórtice insano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.
Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas com as virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:
E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.
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Criação
Há no amor um momento de grandeza, que é de inconsciência e de êxtase bendito: os dois corpos são toda a Natureza, as duas almas são todo o Infinito.
É um mistério de força e de surpresa!
Estala o coração da terra aflito; rasga-se em luz fecunda a esfera acesa, e de todos os astros rompe um grito.
Deus transmite o seu hálito aos amantes: cada beijo é a sanção dos Sete Dias, e a Gênese fulgura em cada abraço;
Porque, entre as duas bocas soluçantes, rola todo o Universo, em harmonias e em florificações, enchendo o espaço!
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Língua portuguesa
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
Amo-se assim, desconhecida e obscura
Tuba de algo clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio