Oh retrato da Morte_Poema_Portugues
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Oh retrato da Morte, oh Noite amigaOh retrato da Morte, oh Noite amiga,
Por cuja escuridão suspiro há tanto!
Calada testemunha de meu pranto,
De meus desgostos secretária antiga!
Pois manda Amor que a ti somente os diga,
Dá-lhes pio agasalho no teu manto;
Ouve-os, como costumas, ouve, enquanto
Dorme a cruel, que a delirar me obriga.
E vós, oh cortesãos da escuridade,
Fantasmas vagos, mochos piadores,
Inimigos, como eu, da claridade!
Em bandos acudi aos meus clamores;
Quero a vossa medonha sociedade,
Quero fartar meu coração de horrores.
Explicação:
Estrutura interna: O poema divide-se em duas partes.
- as duas quadras, em que o sujeito poético se dirige à «Noite amiga», «retrato da Morte»; neste primeiro momento, assistimos à caracterização da noite (retrato da Morte, amiga, testemunha, confidente) e ao pedido para que, uma vez mais, ouça os seus desabafos, os seus lamentos;
- os dois tercetos, em que se dirige aos «mochos piadores», «cortesãos da escuridade» e «inimigos da claridade»; neste segundo momento, o poeta suplica aos mochos que, com a sua «medonha sociedade», o ajudem a fartar o seu coração de horrores;
O estado de alma do poeta é o resultado da falta de afetos, a consequência da «cruel» que dorme (ao contrário dele que passa uma noite de insónia) e que o obriga a delirar (v 8);
O poema é um soneto. Nas quadras a rima é emparelhada e interpolada e nos tercetos é cruzada.
As sílabas métricas em todo o poema são decassílabos.
Existem alguns recursos estilísticos: personificação da Noite e dos mochos (v 9); apóstrofe (v 1/4, 6/7, 9/12); elipse (v 3); anástrofe (vv 4/5, 8, 12); adjetivação (amiga, calada, antiga, pio, vagos, piadores, inimigos, medonha); metáfora (vv 1, 4, 6, 9, 10, 13); comparação (v 11);