Obsolescência
Eu, com meus ríspidos 16 anos bem vividos, tenho minha realidade social ainda definida por um episódio econômico ocorrido há mais de oito décadas: a crise de 29. Fruto de nossa miséria ou de nossa prosperidade, a superprodução americana deixou feridas cada vez mais difíceis de cicatrizar, e a pivô de todas elas é a obsolescência planejada, onde o útil converteu-se em descartável e o desnecessário em prazer.
Comprar tornou-se o lema de nossas vidas; status é vital. Enquanto vejo e presencio a evolução do marketing, dos meios de comunicação e da imprensa, vivo também a regressão da saúde, da educação e dos valores morais. A primeira Revolução Industrial criou o ideal da produção em grande escala, a Segunda do consumo, e a Terceira – em procedência – da exploração aquisitiva do ser humano, sendo ele (nós) inconsciente de sua fácil manipulação.
Ainda forço-me a crer no progresso intelectual, onde consumamos conscientes e que nos seja fornecido algo durável, algo não obsoleto. Em meio a alguns artigos, descubro Bernard London, o pai da inutilidade e da obsolescência, mas que, de início, tinha bom intuito. Em 1929, ou incentivava-se o consumo ou o desemprego crescia ainda mais; dito e feito. Com a crise em seus resquícios, adotou-se a aquisição exacerbada como ideal capitalista, de lucro, gerando uma sociedade descontrolada e alienada.
Tornamo-nos paradoxos ambulantes, ociosos por qualidade de vida e alimentadores da indústria consumista, que nos extorque e expande a diferença social. Criou-se uma falsa classe média, onde a obtenção facilitada de bens de consumo não duráveis encobre a fraude do sistema. A ilusão da ascensão econômica (não vejo cultural) contribui intensamente para que a obsolescência continue a vigorar.
Hoje, vivemos em 2013, não em 1929. Ainda assim, preferimos passar três anos pagando um objeto que logo substituiremos, já que o importante é ter, não utilizar.O sapato passou a ser mais importante que o pé, e a roupa mais do