Observações sobre o livro Cemitério da Esperança
Que eu saiba existem poucas obras com a carga negativa do livro Cemitério da Esperança, que apresenta uma péssima imagem do Brasil e especificamente de Brasilia. O mais curioso disso é que, embora o livro deixe um gosto amargo na mente do leitor, há pouco nele que deva ser refutado e muito com o que se pode concordar. É interessante que tenha que surgir um estrangeiro para tecer críticas tão contundentes ao país e sua capital. No Brasil, falar mal de Brasília e de seus dois artífices principais é tabu... Benjamin Moser parece crer que a monumentalidade é sempre negativa em arquitetura e urbanismo, principalmente porque a associa à grande escala e a obras construídas por regimes totalitários. Mas pode-se ver a monumentalidade como algo diferente. Há pelo menos 60 anos a cidade tradicional é entendida como sendo constituída por dois elementos essenciais: o tecido urbano composto pelos edifícios dedicados à moradia, ao trabalho, aos serviços, etc, que representa a maior parte da cidade, e seus monumentos, aqueles edifícios que possuem importância coletiva por representarem as instituições humanas: escolas, igrejas, prédios administrativos, culturais, etc. Esse é um modo de ver o monumental que não o associa com a opressão; pelo contrário, nesse sentido os monumentos ajudam a definir a identidade individual.
O autor parece também se incomodar muito com cidades organizadas de acordo com sistemas formais regulares, muitas vezes derivados de precedentes clássicos. A regularidade e unidade do esquema geral é algo comum nos poucos casos em que se criou cidades do zero (Palmanova,
Karlsruhe, Washington, Canberra, Brasília) ou quando tentou-se introduzir ordem e estabelecer conexões em tecidos urbanos medievais (A Roma renascentista, Paris e Bath no século 18, etc) porque é preciso criar uma ordem clara inteligível sobre a qual a cidade possa ir se desenvolvendo. A dinâmica urbana normalmente se