Obras
Maria Vilela Pinto Nakasu
Resumo
Os Trabalhos sobre técnica psicanalítica (1911-1915 [1914]) e as Conferências de introdução à psicanálise (1917 [1916-1917]) apontam para uma transformação operada sobre a técnica da interpretação a partir do reconhecimento dos efeitos negativos da transferência. Neste momento da obra freudiana, o paradigma da interpretação, especificado pelo modelo da interpretação dos sonhos, parece ter sido substituído por um outro paradigma: o que confere à dinâmica da situação analítica e ao caráter repetitivo da transferência suas principais características. Pretende-se examinar as transformações técnicas sugeridas nos textos freudianos e suas implicações para uma possível mudança de paradigma.
Se, por um lado, o adiamento ou mesmo a não publicação dos Trabalhos sobre técnica psicanalítica1 evitaria uma apropriação equivocada pelos analistas iniciantes dos preceitos técnicos psicanalíticos, por outro, Freud os redigiu para contornar uma situação delicada: para interromper um processo já em andamento de um mau uso do método e das teorias psicanalíticas, ou, em outras palavras, para evitar que a psicanálise fosse aplicada com selvageria2. Segundo uma hipótese de Mezan, com a publicação dos artigos sobre técnica a interpretação teria se deslocado do paradigma da interpretação dos sonhos para o paradigma da dinâmica da situação analítica, especificado pela transferência e seu caráter repetitivo. O primeiro introduzido em A interpretação dos sonhos e o segundo em Recordar, repetir e elaborar3.
Para examinar em que medida os artigos sobre técnica inauguraram um novo paradigma da interpretação, tal como sugere Mezan, é preciso discuti-los. O fio condutor desta discussão será as implicações para a técnica interpretativa do desenvolvimento do conceito de transferência como resistência, tendo em vista sua relação com as noções de repetição e rememoração. Para tanto, alguns trechos de "A