Obras de gregorio de matos
1 Saiu a sátira má, e empurraram-ma os preversos que nisto de fazer versos eu só tenho jeito cá: noutras obras de talento eu sou só o asneirão, em sendo sátira, então eu só tenho entendimento.
2 Acabou-se a Sé, e envolto na obra o Sete Carreiras enfermou de caganeiras, e fez muito verso solto: tu, que o Poeta motejas, sabe, que andou acertado que pôr na obra louvado é costume das Igrejas.
3 Correm-se muitos carneiros na festa das Onze mil, e eu com notável ardil não vou ver os cavaleiros: não vou ver, e não se espantem, que algum testemunho temo, sou velho, pelo que gemo, não quero, que mo levantem.
4 Querem-me aqui todos mal, mas eu quero mal a todos, eles, e eu por nossos modos nos pagamos tal por qual: e querendo eu mal a quantos me têm ódio tão veemente o meu ódio é mais valente, pois sou só, e eles são tantos.
5 Algum amigo, que tenho,
(se é, que tenho algum amigo) me aconselha, que, o que digo, o cale com todo o empenho: este me diz, diz-me estoutro, que me não fie daquele, que farei, se me diz dele, que me não fie aqueloutro.
6 O Prelado com bons modos visitou toda a cidade, é cortesão na verdade, pois nos visitou a todos: visitou a pura escrita o Povo, e seus comarcãos, e os réus de mui cortesãos hão de pagar a visita.
7 A Cidade me provoca com virtudes tão comuas: há tantas cruzes nas ruas, quantas eu faço na boca: os diabos a seu centro foi cada um por seu cabo, nas ruas não há um diabo, há os das portas a dentro.
8 As damas de toda a cor como tão pobre me vêem, as mais lástima me têm, as menos me têm amor: o que me tem admirado é, fecharam-me o poleiro logo acabado o dinheiro, deviam ter-mo