Objeto e caráter da filosofia

OBJETO E CARÁTER DA FILOSOFIA

A principal personagem de uma comédia célebre de Moliére - o Monsieur Jourdain de Bourgeois Gentilhome - aconteceu certa vez de ser tomada de surpresa ao saber pelo seu professor que, falando há quarenta anos, fazia prosa sem o saber. Com a filosofia acontece algo semelhante: todos nós “filosofamos” mais ou menos há muito tempo, mesmo que nós não tenhamos nos inteirado disso. Daí o poder dizer-se que não se põe o problema de saber se devemos ou não filosofar, mas se “filosofamos” bem ou mal. Dito de outra forma: não se nos apresenta a questão de saber se devemos ou não ter uma filosofia, mas apenas a de saber se devemos ou não esclarecer e ordenar os nossos pontos de vista sobre o problema que mais diretamente se prendem conosco e com o meio natural e social que nos rodeia e em que vivemos e atuamos, segundo um critério que tenhamos perfeita consciência. Cada indivíduo tem propensão para fazer suas certas idéias e opiniões que norteiam a sua maneira de proceder, para julgar e avaliar pessoas e fatos e que dão de algum modo um sentido a sua vida. Essas convicções constituem a sua “filosofia”. Uma certa maneira de viver, um certo “estilo” de vida e já de algum modo uma maneira de filosofar. E o fato de o homem nem sempre ter consciência dessa atitude geral que caracteriza o seu modo de atuar e de orientar a sua vida não impede que a tenha. Por isso se pode dizer que a filosofia (como hoje a ciência) é um grande elemento na vida de cada um de nós. Deste primeiro sentido muitíssimo geral da palavra “filosofia”, facilmente se pode partir e chegar a um segundo: não basta apenas tomar consciência da atitude geral característica da nossa maneira de pensar e de agir; há que examinar essas opiniões, pontos de vista, sentimentos, crenças, preconceitos. É esse o segundo sentido da palavra “filosofia”, mais perto já do verdadeiro objeto