Nós que voa
As estatísticas das perdas do atual movimento insurreicional do povo palestino (Segunda Intifada), iniciado em setembro de 2000, falam por si mesmas: 1.074 palestinos e 344 israelenses. Mas como contabilizar o incomensurável medo das crianças apavoradas sob os bombardeios? A angústia dos doentes à espera de remédios? A tristeza de mães e pais que não mais verão suas filhas e filhos? O trauma dos aleijados de corpo e de espírito? O luto dos que sobreviveram? O desespero dos sem-trabalho, dos sem-teto, dos sem-esperança?
Desde 1948, quando da fundação do Estado de Israel em terras palestinas, instaurou-se a discórdia. De um lado, os israelenses reivindicando um direito histórico a terras sagradas. E um refúgio contra perseguições que dizimavam periodicamente o povo judeu. De outro, os palestinos, privados de um Estado Nacional, transformados em refugiados, num momento de aurora para os povos tradicionalmente dominados pelas metrópoles européias.
Uma primeira guerra, naquele mesmo ano de 1948, tentou resolver pela violência a questão. Três outras grandes guerras ainda seriam travadas, em 1956, 1967 e 1973. Como se deuses vorazes tivessem se instalado na região, cobrando periodicamente, ritualisticamente, sacrifícios e vidas, alimentando a incompreensão e impedindo o diálogo.
Mas não há como responsabilizar deuses por estes trágicos sucessos. Foram os seres humanos, em suas circunstâncias e histórias, que construíram estes horrores: uma demografia explosiva, em contraste com recursos escassos de água e terras; a hegemonia de versões extremistas de valores religiosos; a predominância de perspectivas nacionalistas estreitas e