Nós que aqui estamos, por vós esperamos - Análise
Esta é a ficha técnica. Mas qual seria a identidade de uma obra tão intensamente perturbadora e comovente como esta? Seria uma obra política? Poética? Crítica? Cinema Verdade? Aula de História? Filme de Arte? Cult?
Eu diria que é uma obra política-poética-crítica-cine verdade-aula de história-filme de arte-cult, de uma profunda “eloquência muda”.
Um filme que fala de memória e, portanto, de identidade. Um filme que mostra que somos todos plateia e atores; que a história do mundo é feita das histórias dos outros e da nossa própria história; que “o ser humano só existe com os outros” (como dizia Paulo Freire) e que, por outro lado, o coletivo só faz sentido quando cada pessoa tem a sua individualidade. Um filme que fala de diversidade, diferença e alteridade, e das consequências da intolerância e indiferença de seres humanos diante de outros seres humanos. Uma obra que fala de relações de poder – de tiranos, dominados, líderes, e inocentes, traçando um panorama de identidades e diferenças cultural, social e economicamente estabelecidas durante toda uma época – o breve século XX. Por tudo isso, diria que é uma obra POLÍTICA.
Trabalhando imagens em preto e branco ou envelhecidas, tendo como pano de fundo uma trilha sonora belíssima e comovente – por vezes nostálgica e melancólica – de Win Mertens (exceção para a sequência Garrincha-Fred Astaire, em que os efeitos sonoros e música são de André Abujamra), exibe a vida como um poema visual, sem diálogos. Alguns poucos textos curtos aparecem escritos na tela de quando em vez, como palavras determinantes, identificadoras, importantes para conferir sentido e ampliar em muito a força das imagens. O modo de apresentação das cenas (imagens superpostas que vão se sucedendo num piscar de olhos, com música ao fundo) reforça a ideia de brevidade e confere um caráter onírico à vida, transmitindo a sensação do quanto