Nível de linguagem e sentido conotativo
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Na semana passada, três adolescentes morreram pisoteados em um tumulto ocorrido em um show de rock no Jockey Clube de Curitiba. De acordo com as primeiras notícias, o promotor da festa, acusado de negligência na organização do evento que atraiu 30 mil jovens, tomou uma providência muito comum no Brasil: desapareceu.
Estamos acostumados a notícias como essa. Os donos da Cataguazes custaram a ser encontrados - pela polícia - depois do grave acidente ecológico provocado pela indústria, no sul de Minas Gerais. Quem se lembra do deputado Sérgio Naya, que evitou quanto pôde prestar conta às famílias das vítimas do edifício Palace? Em países onde a vergonha é o sentimento que prevalece na relação entre o público e o privado, políticos renunciam, empresários se demitem ou tentam suicídio quando responsabilizados por falhas escandalosas em assuntos de sua competência. No Brasil, eles se escondem e esperam a maré baixar.
Os pais das famílias de classe média andam preocupados com a falta de ética na conduta dos adolescentes. Temem as más influências dos 'maloqueiros' do bairro - mas não percebem que os piores exemplos de irresponsabilidade e falta de educação provêm da própria elite nacional, acostumada a conviver com uma série de práticas ilegais, de maior ou menor gravidade. Uma parte da classe dirigente brasileira considera que a lei só serve para enquadrar os outros. A lei é para os 'manés'. Os espertos e os privilegiados sabem como se colocar acima ou à margem dela. 'Quem tem 30 contos de réis no Brasil não vai para a cadeia', dizia Lampião.
Os adolescentes ricos convivem com essa criminalidade soft dentro, ou perto, das próprias casas. É o pai que oferece caixinha ao guarda para escapar da multa; ou que vai à escola pedir a cabeça do professor que reprovou, por razões justas, seu filho. Os pais que se apavoram quando um filho começa a fazer amizade com os favelados da vizinhança são os