Não posso com a vida dele...
Crônicas pra tocar o horror na alienação imposta!
“Não posso com a vida dele, professora...”
Criança é mesmo impossível! Elas são curiosas, sonhadoras e inocentes! Mas para alguns, este impossível é o mesmo que diabólicas! Durante minha carreira no magistério já ouvi muitas frases sobre a escolha da minha profissão, sobre como eu faço pra aguentar trinta, se eles (pais) não agüentam dois em casa por meia hora, sobre como eu posso gostar de ensinar, sendo que tenho que trazer todo dia serviço para casa... pois é. Eu sempre respondo metodicamente, como quem responde às perguntas repetitivas de um paciente com Alzheimer: gosto do que faço, para lidar com crianças, basta tratá-las como crianças e que, no final do dia, eu não levo serviço para casa, levo diversão! Eu sou uma professora do tempo em que ensinar era algo fenomenal (ainda é, sempre será!) O que me deixa doida é que muitas vezes eu ouço isso dos próprios professores, além de pessoas desconhecidas e dos próprios parentes.
A situação foi esta: toda vez que eu mandava a tarefa para casa, voltava sem ser feita. E o Joãozinho se desdobrava em desculpas, uma mais espetacular e criativa do que a outra. Tantas, que vou me limitar a usar um só travessão: – Fui no culto com minha mãe e não deu pra fazer! Tinha visitas em casa, e não pude fazer. Acordei tarde, e não pude fazer. Meu avô morreu (isso foi verdade!) e não pude fazer. Fui pro centro com minha mãe, chegamos na hora de vir pra escola já... e não pude fazer. Tudo bem... mas a lenga-lenga rolou uma semana a fio... então, na agenda escrevi um bilhetinho: Senhores responsáveis, por gentileza verifiquem as tarefas de seu filho diariamente. Mais uma semana da mesma maneira... outro bilhetinho: Senhores responsáveis, organizem as atividades de seu filho de modo que ele possa realizar suas tarefas, pois elas fazem parte de seu