Novas configurações da divisão sexual do trabalho
New Settings of the Sexual Division of Labor | Helena Sumiko Hirata* | Resumo | Quando falamos da Divisão Sexual do Trabalho (DST), duas observações prévias são necessárias. A primeira refere-se ao conceito de trabalho, que, no caso da Divisão Sexual do Trabalho, é um conceito ampliado, que inclui o trabalho profissional e doméstico, formal e informal, remunerado e não-remunerado. Assim, falar de novas configurações DST remete ao universo tanto do trabalho profissional quanto do doméstico, do trabalho assalariado e do gratuito. A segunda observação diz respeito à indissociabilidade entre DST, divisão sexual do saber e divisão sexual do poder. Não se pode discutir a divisão social e sexual do trabalho entre homens e mulheres sem associar essa divisão à repartição do saber e do poder entre os sexos na sociedade e na família. Trata-se aqui do que Nancy Fraser, em um instigante ensaio publicado recentemente pela New Left Review, intitulado Feminism, capitalism and the cunning of History (“Feminismo, capitalismo e a astúcia da história”) (n. 56, 2009), chama de “processos de subordinação mediados pelo mercado”. As responsabilidades tradicionais das mulheres pela educação das crianças estruturam mercados de trabalho que são desvantajosos para as mulheres, resultando em um poder desigual no mercado econômico, que, por sua vez, reforça e exacerba o poder desigual na família. Essas relações entre trabalho / família / sociedade, e trabalho / saber / poder, formam um círculo vicioso e não virtuoso. Essas relações são discutidas também por Susan Muller Okin (1989) em “Justiça, gênero e família”, referindo-se a um “ciclo” de vulnerabilidade, claramente assimétrica, provocada socialmente pelo casamento (p. 138, citada por Fraser, 2009, p.115). Neste artigo, são tratados quatro aspectos das novas configurações da DST, entendida neste sentido lato: 1. Divisão sexual do trabalho profissional e doméstico. 2. Precarização