Norma culta
Norma culta
Uma grande amiga me perguntou por e-mail o que é norma culta. Ela, que é jornalista, precisa dominar a tal norma para trabalhar. Mas, e quem não trabalha com as palavras, também precisa dominá-la? Devemos seguir as regras da gramática normativa em todas as situações ou só nas formais? Devemos corrigir quem fala "errado" ou ser condescendentes? Essa inquietação não é só de minha amiga: muitas pessoas (se) fazem as mesmas perguntas. Afinal, numa sociedade como a nossa, em que quase tudo é motivo de exclusão, o modo como se fala é um dos maiores alvos do preconceito e da intolerância. Ia responder à minha amiga também por e-mail, só que a resposta a essas indagações é tão complexa - a menos que, à maneira de muitos gramáticos, eu desse respostas dogmáticas do tipo "isso é assim porque é assim e pronto" - que a mensagem eletrônica se transformou neste artigo que convido minha amiga a ler. Em primeiro lugar, a língua que falamos, seja qual for (português, inglês, coreano...), não é uma, são várias. Tanto que um dos mais eminentes gramáticos brasileiros, Evanildo Bechara, disse a respeito: "Todos temos de ser poliglotas em nossa própria língua". Qualquer um sabe que não deve falar em uma reunião de trabalho como falaria numa mesa de bar. Ou seja, a língua varia. E o faz em função de quatro parâmetros básicos. Varia no tempo (daí o português medieval, renascentista, do século 19, dos anos 40, de hoje em dia), varia no espaço (por isso temos um português lusitano, brasileiro, e mais, um português carioca, paulista, sulista, nordestino), varia segundo a escolaridade do falante (resultando em duas variedades de língua: a escolarizada e a não escolarizada) e finalmente varia segundo a situação de comunicação, isto é, o local em que nos encontramos, a pessoa com quem falamos e o motivo da nossa comunicação - e, nesse caso, há duas variedades de fala: formal e informal. Tenho dito sempre que a língua é como a roupa que vestimos: há