Noite adentro
Espaços educacionais noturnos trazem de volta o debate sobre a que público se destinam, se aos pais trabalhadores ou se aos filhos que têm direito à educação infantil de qualidade
Julia Contier
Quando a doutoranda da Universidade de Brasília Ana Beatriz Rocha Lima estava iniciando sua pesquisa de mestrado em educação, em 2005, escolheu um município na região do Vale do Itajaí (SC) por ser um local onde, para atender a mães que trabalham em turnos distintos nas fábricas do município, havia creches que funcionam de 4h da manhã até a meia-noite. “Percebemos que esses espaços poderiam nos revelar aspectos da educação infantil desconhecidos até então”, afirma a pesquisadora.
Hoje, com o crescimento do número de crianças que frequentam a educação infantil em todo o país – mais de 6,7 milhões segundo dados do Censo Escolar 2010 – também aumenta a demanda pelas chamadas creches noturnas. Segundo a coordenadora geral de Educação Infantil do Ministério da Educação, Rita Coelho, essa procura, porém, não é nacional, e sim regional. “Essa solicitação acontece em grandes metrópoles”, afirma Rita.
A discussão acirra a opinião de especialistas que, de um lado veem a abertura de creches à noite como um retorno à concepção assistencialista dos espaços de educação infantil – já que o principal argumento para a sua abertura é a necessidade das famílias que trabalham. “Quando a família busca uma creche noturna porque seus membros trabalham, a creche não está atendendo à demanda da criança, mas sim à demanda do trabalho”, defende Rita. Do outro lado, também se dividem as opiniões sobre o que fazer com as crianças nesse horário.
Dormir ou brincar?
Para a pesquisadora Ana Beatriz, da UnB, é possível manter a rotina e o tempo, tão fundamentais na educação infantil, nesses espaços. “Os turnos não convencionais podem realizar atividades criativas, como brincar em uma brinquedoteca, participar da hora do conto, assistir um desenho animado ou mesmo relaxar