No íntimo da visita: uma crônica da revista vexatória
No íntimo da visita: uma crônica da revista vexatória
Haroldo Caetano da Silva
A rotina era aquela conhecida de sempre no dia de visitas. Centenas de mulheres, com suas sacolas plásticas e crianças de todas as idades, em filas onde não se sabia onde era o começo nem o fim. Vendedores ambulantes anunciando de tudo, desde água mineral a guarda-chuvas e até mesmo barracas de aluguel. Choro, conversa em voz alta, reclamações sobre o calor ou a chuva ou a demora na fila, empurra-empurra e algumas brigas, produziam uma algaravia ensurdecedora. As funcionárias da prisão em seus postos, prontas para a revista, acostumaram-se com o trabalho e alardeavam a própria eficiência, pois há anos não se flagrava nada de mais sério com as visitantes. Da última vez digna de nota, ocorrida no ano de 2007, uma senhora de 78 anos foi apanhada tentando entrar com “uma porção de maconha junto com um celular nas partes íntimas”, conforme constou do relatório. À época, o neto daquela senhora, dependente químico, passava os dias consumindo toda sorte de drogas na prisão, “mas drogas que não chegavam pelas visitas”, sempre se defendiam as competentes fiscais de visitas. Naquele domingo, entretanto, a rotina se alterou. Um fato inusitado e sem precedentes acabava de acontecer. E foi um bafafá comentado por meses a fio. O relato a seguir é de uma das fiscais de visitas que, constrangida e indignada, a tudo assistiu, mas que prefere não se identificar para evitar aborrecimentos no trabalho. – Dona Bertolina! Veio ver o maridão, hein!? – Pois é, minha filha. Hoje é o aniversário do Jeneilson. Responde a visitante, expondo um sorriso meio forçado.
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– Então tá. Pode começar. Diz a fiscal da Penitenciária da Esbórnia, encerrando ali as amenidades. E Dona Bertolina, 50 anos de idade, embora aparentasse bem mais, despe-se com a rapidez desde sempre exigida, começando pelo vestido longo e azul, depois o sutiã, os brincos e os sapatos. Estava mesmo vestida para celebrar a importante