Ninhu e stela

19937 palavras 80 páginas
Elísio Estanque in Lages, Mário e Matos, Artur Teodoro (Orgs.), Portugal Intercultural: Razão e Projecto. Lisboa: CEPCEP-Universidade Católica Portuguesa/ ACIDI - Alto Comissariado para a Integração e Desenvolvimento Intercultural, 2009, pp.123-176.

ELÍSIO ESTANQUE
Centro de Estudos Sociais/ Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Email: elisio.estanque@mail.com

Diferenças sociais de classe e conflitualidade social
Introdução
Um aspecto que distingue as noções de “desigualdade” e “diferença” é que a primeira corresponde a diferenças não desejadas (Therborn, 2006). Como referiu um prestigiado sociólogo português “devemos reivindicar a diferença sempre que a igualdade é opressora e devemos reivindicar a igualdade sempre que a desigualdade é exploradora ou excludente” (Santos, 2006). A diferença pode ser étnica, de género, de religião de nacionalidade, de cultura, etc., mas a desigualdade aponta para estruturas mais profundas de interdependência, o que nos obriga a ter presente o conceito de “classe social”. Acresce que este, tem por trás de si toda uma história, que, evidentemente, não pode ser ignorada. O presente capítulo centra-se na questão das desigualdades sociais e procura responder a uma dupla preocupação: em primeiro lugar, uma reflexão sobre a temática das classes e desigualdades, privilegiando a perspectiva marxista teórica (e com especial referência ao modelo de Erik Olin Wright), mas discutindo-a em articulação com outras linhas de análise (sobretudo as de influência weberiana); em segundo lugar, analisam-se algumas das transformações recentes na sociedade portuguesa, tendo presente o seu enquadramento internacional. O campo laboral será tomado como ponto de partida para dar conta dos processos sociais emergentes, nomeadamente as novas linhas de segmentação e reestruturação das desigualdades. Embora a reflexão privilegie a dimensão estrutural, dar-se-á igualmente atenção a alguns estudos empíricos sobre a sociedade portuguesa, os quais

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